top of page

ABOUT THE TOXICOLOGY LABORATORY

Tanto quanto me é dado conhecer, são as Faculdades de Farmácia em Portugal, através das licenciaturas  e posteriormente os mestrados que conferem em Ciências Farmacêuticas, as Instituições Universitárias que incluem nos seus curriculae o ensino mais aprofundado em Toxicologia, sobretudo nas suas vertentes fundamental, mecanística, reguladora e ambiental, neste caso na perspetiva do medicamento. É portanto tácito, tanto em Portugal como em outros países da Europa, ligar o conhecimento desta área da ciência aos Farmacêuticos. Para além do seu tradicional papel na Farmácia Comunitária, Hospitalar e nas Análises Clínicas devido aos amplos e profundos conhecimentos nas áreas da biologia e da química, necessários para a compreensão dos mecanismos farmacotoxicológicos, o licenciado em Ciências Farmacêuticas desempenha hoje um papel relevante em vários organismos reguladores, no controlo da qualidade de alimentos e medicamentos, na avaliação da segurança dos compostos, entre outras atividades, constituindo o conhecimento em Toxicologia um dos pilares fundamentais para esse desempenho.

Sendo o ensino da Toxicologia normalmente ministrado nos últimos dois anos de formação, a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) teve em Portugal um lugar de destaque no ensino desta ciência já que, durante um apreciável período de tempo, foi a única Universidade do país a conferir o grau de licenciatura em Farmácia. Hoje, além do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, a Toxicologia é lecionada na FFUP com particular enfase no Mestrado em Toxicologia Analítica Clínica e Forense, no 2º e 3º ciclo em Ciências Forenses e no Mestrado em Controlo de Qualidade.

 

Não cabe aqui fazer uma retrospetiva histórica do que foi o ensino e a investigação em Toxicologia na FFUP sobretudo porque se correria o risco de omitir o contributo de pessoas e a ocorrência de feitos, o que constituiria grande injustiça. Recuando apenas 30 anos e lançando um olhar rápido e abrangente para o que foram os interesses da Toxicologia neste período na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, julgo poder concluir, sem grande distorção da verdade, que três épocas marcaram os interesses do ensino e da investigação neste Laboratório.

 

Primeiramente, e tendo como timoneiro essa personalidade marcante que é o Professor Catedrático Doutor Joaquim José Nunes de Oliveira, foram sobretudo os aspetos forenses que mobilizaram os interesses dos que trabalhavam no Laboratório de Toxicologia sob a sua orientação. É no entanto da maior justiça referir aqui que o tema tão moderno e preocupante como é o da Toxicologia Ambiental era já no início dos anos setenta encarado por este Professor como prioritário, tendo visto aprovado pelo Instituto de Alta Cultura um Projeto para estudar os poluentes atmosféricos da cidade do Porto, bem como a poluição causada pelos esgotos fabris da zona industrial de Estarreja. Por razões alheias à ciência e ao ensino, viu por algum tempo quartado o seu direito de ensinar na Faculdade e sucedeu-lhe, na chefia do Laboratório de Toxicologia da FFUP, o Professor em Bioquímica Doutor Fernando de Sena Esteves que, embora num curto interregno de três anos, incutiu, sobretudo no ensino da Toxicologia, um cunho eminentemente bioquímico e pode afirmar-se que foi o início da era da Toxicologia Bioquímica na Faculdade. Foi este rumo que eu decidi adoptar quando assumi, em 1989, a responsabilidade deste Laboratório. No entanto, no domínio da investigação, os trabalhos realizados continuavam a enquadrar-se sobretudo no ramo da Toxicologia Analítica. Mas no início dos anos 90 as linhas de investigação no Laboratório de Toxicologia começaram a desenhar-se um pouco ao sabor das oportunidades que eram abertas e dos interesses comunitários da altura. Assim, os Cursos de Toxicologia Avançada realizados no então Centro de Citologia da Universidade do Porto (hoje IBMC) em que fui chamada a colaborar na coordenação, liderados pelo Professor John Timbrel da “London School of Pharmacy” constituiram um marco importante na viragem dos trabalhos de investigação, iniciando-se a partir de então os estudos em Biotoxicologia realizados em células isoladas.

 

Também, no início dos anos noventa, de parceria com o Laboratório de Bromatologia da FFUP dirigido pela Professora Catedrática Doutora Margarida Alice Ferreira, nos vimos integrados entre 1992 e 1994 num Projeto Comunitário de avaliação da toxicidade dos resíduos de promotores de crescimento em amostras edíveis e respetivo controlo analítico (1). Esta era, nessa época, uma área de grande interesse na Europa, geradora de profundas controvérsias e que necessitava de regulamentação inequívoca a qual devia ser sustentada em bases sólidas resultantes de trabalhos de investigação adequados. A entrada de investigadores do Laboratório de Toxicologia neste projeto comunitário constituiu, por essa altura, um importante passo para a internacionalização dos estudos desenvolvidos sobretudo na área da Toxicologia mecanística.

 

A forma vertiginosa como se desenvolveram, nas últimas décadas, ciências como a genética e a biologia molecular vieram marcar de forma indelével as orientações da investigação em Toxicologia, sobretudo na sua vertente fundamental, sendo hoje a Toxicologia mecanística e a Toxicologia molecular duas sub-disciplinas que permitem o entendimento dos fenómenos de toxicidade originados pelos xenobióticos a nível sub-celular e das moléculas.

 

Para contextualizar as evoluções sofridas na investigação em Toxicologia, é premente introduzir ainda um outro conceito relativamente recente e que consiste na consciencialização por parte da comunidade científica universal em reduzir ao mínimo possível a utilização de animais em experiências de avaliação da toxicidade dos compostos, sobretudo dos compostos novos, podendo citar-se como principais grupos os fármacos, os aditivos alimentares, os alimentos geneticamente modificados e os pesticidas. Nesse sentido, tem sido feito um esforço enorme, com resultados já visíveis, para que se desenvolvam e implementem ensaios in vitro que consistem essencialmente na utilização de animais não mamíferos, órgãos isolados, fatias de tecidos ou órgãos, células isoladas, culturas de células, frações sub-celulares e mesmo sistemas moleculares. Na minha perspetiva, e não obstante não se conseguir ainda divisar para que data se prevê banir em absoluto os ensaios em animais, a vantagem da sua substituição por ensaios in vitro, para além da redução desejável do seu sacrifício, reside sobretudo nas informações mecanísticas que estes ensaios podem fornecer, ao contrário das informações obtidas no animal inteiro, essencialmente empíricas, baseadas na observação.

 

Com a intenção de desenvolver a investigação em toxicologia fundamental, a equipa do Laboratório de Toxicologia da FFUP empenhou-se, desde há alguns anos, na implementação de ensaios in vitro para avaliação da toxicidade dos compostos e sobretudo para poder contribuir para o conhecimento da sua ação mecanística, aspeto fundamental para que essa ação tóxica possa ser evitada ou contrariada. Os sistemas in vitro usados já rotineiramente neste Laboratório consistem em linhas celulares várias, suspensões de células isoladas de fígado e de coração de rato, bem como hepatócitos de ratinho, hepatócitos criopreservados de várias espécies animal e humanos, bem como com culturas de células proximais renais de rato e humanas e culturas de neurónios de rato neonatal. Estamos também a implementar culturas 3D de hepatócitos. Nos últimos anos o Laboratório de Toxicologia tem publicado variados estudos nos modelos supracitados, reforçando o seu conhecimento e experiência nesta área.

 

É claro que as atividades do Laboratório de Toxicologia da FFUP não se reduzem à linha de investigação supracitada, sendo de realçar os trabalhos de investigação de natureza aplicada, realizados em colaboração com outros Laboratórios da FFUP e com outras Instituições. Assim, destaca-se a colaboração com Unidades Hospitalares de todo o País no contributo dado pelo Laboratório de Toxicologia no despiste das doenças genéticas de Wilson e Hemocromatose através do doseamento de cobre e ferro, respetivamente, em fragmentos de biópsia hepática humanos. Este e outros trabalhos (12) enquadram-se no âmbito da Toxicologia Clínica, área que estamos a tentar desenvolver para um nível moderno. Ainda no domínio dos metais tem este Laboratório prestado colaboração de forma continuada à delegação do Porto do Instituto Nacional de Medicina Legal na análise de amostras post-mortem, portanto no âmbito forense. Especial atenção tem sido dada, ainda no domínio dos metais pesados, à sua especiação analítica, tendo implementado técnicas de quantificação de diferentes espécies de um mesmo elemento cujas ações biológicas, dependendo da espécie, se expressam de forma extraordinariamente diferente. Têm merecido particular atenção nesta linha de investigação o crómio, que na sua forma hexavalente é genotóxico e o mercúrio que, nas espécies aquáticas, se encontra sobretudo na forma de metilmercúrio o qual, como está comprovado, é um agente neurotóxico e teratogénico. Estas técnicas implementadas têm sido sobretudo aplicadas ao controlo da qualidade de alimentos ou de materiais que com eles contactam.

 

Na conjugação do ensino pós-graduado com a investigação tem o Laboratório de Toxicologia dado a outras instituições contributos significativos, nomeadamente na realização e orientação de teses de Mestrado e Doutoramento, podendo citar-se a Universidade de Aveiro, a Universidade do Minho, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, a Faculdade de Ciências do Desporto, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e o Instituto Politécnico de Bragança. Também, tendo presente a necessidade da modernização constante da investigação, tem o Laboratório de Toxicologia estabelecido protocolos e enviado jovens investigadores a instituições no estrangeiro como são exemplos mais recentes “Departments of Medicine and Therapeutics and Biomedical Sciences, University of Aberdeen”, “Experimental Neurology Department of Neurology Charite Hospital, Humboldt University - Berlin”, “Center for Molecular Toxicology, College of Pharmacy, University of Texas” e “Department of Pharmacology and Molecular Toxicology of the Faculty of Pharmacy, University of Southern California”.

 

Finalmente, deve ser dado relevo aos protocolos de colaboração estabelecidos com a Indústria no sentido de realizar análises e elaborar pareceres no domínio da Toxicologia, bem como o apoio à Comunidade. É desejo da equipa do Laboratório de Toxicologia da FFUP, quando vir alargado o seu ainda muito restrito número de investigadores e professores e, sobretudo quando tiver mais amplas instalações, poder afirmar-se mais aprofundadamente nas relações com a indústria, o que constituirá, com certeza, um veículo de proveitos bilaterais e do qual todos beneficiaremos. Destaco, finalmente, a integração do Laboratório de Toxicologia desde há alguns anos no Centro de Química da Universidade do Porto (CEQUP) que constituiu, com o CQFB (Universidade Nova de Lisboa), o Laboratório Associado REQUIMTE (Rede de Química e Tecnologia) tendo como principal objetivo abordar o tópico “Química Verde – Tecnologias e Processos Limpos”. Esta circunstância abre novos horizontes em termos de colaborações intramuros, destacando-se, entre as que se perspetivam a curto prazo, a avaliação pelos nossos investigadores da atividade biológica de compostos naturais isolados de plantas e de compostos de síntese obtidos por outros grupos por processos “limpos” no enquadramento dos rumos da investigação nesta rede.

 

Maria de Lourdes Bastos

(Diretora do Laboratório)

Prof. Ferreira da Silva

Historicamente, um dos mais eminentes toxicologistas Portugueses dos finais do Sec. XIX e início do Sec. XX foi o químico portuense António Joaquim Ferreira da Silva (1853-1923), lente na Escola Politécnica do Porto. O Prof. Ferreira da Silva foi pioneiro no ensino da Toxicologia na FFUP (saiba mais).

Toxicology in Portugal

A "World Library of Toxicology" é um portal da internet que fornece informação sobre todas as intituições nacionais relacionadas com a Toxicologia. O Laboratório de Toxicologia é responsável pela página relativa a Portugal (saiba mais).

bottom of page